terça-feira, 28 de setembro de 2010

Lula, uma dura ilusão

Durante boa parte da minha juventude, Lula foi, para mim, um herói. Nordestino miserável que migrou para São Paulo em busca de oportunidades, tornou-se torneiro mecânico de profissão e sindicalista/político de ofício. Lula era o símbolo de uma classe trabalhadora oprimida. Ele era o herói que não curvava à força do capitalismo e ao regime ditatorial. Quanta inocência, dura ilusão.
Lula não é herói, e muito menos um “Messias” como ele gosta de se imaginar. A cada dia me parece mais um oportunista mau caráter. Impressiona a sua capacidade de apropriar-se das idéias e realizações dos outros e mentir. Por exemplo, a origem do programa social bolsa família (talvez, o seu maior cabo eleitoral) foi o programa bolsa escola, desenvolvido no governo do PSDB a partir das experiências realizadas em Campinas, interior de São Paulo e Brasília (esta governada por Cristovam Buarque que não é PSDB). O conceito do programa bolsa escola era vincular o benefício dado em dinheiro com o compromisso das famílias pobres em manter as crianças na escola. O bolsa família é, na verdade, a junção do bolsa escola, do auxílio gás e do bolsa alimentação (estes também integrantes do programa de transferência de renda  do governo FHC). Portanto, o mérito do governo Lula foi manter e ampliar o alcance do programa para mais sete milhões de novas famílias. Outro exemplo refere-se à própria conjuntura econômica. Há uma disposição em ocultar “as causas” do efeito. O efeito, a melhoria da conjuntura econômica, não é bastardo. Plano Real, lei de responsabilidade fiscal (esta, diga-se de passagem, repudiada pelo próprio PT), independência do Banco Central (o que possibilitou dissociar decisões técnicas das pressões políticas e eleitoreiras), controle da inflação (sem dúvida, o maior benefício para os pobres), manutenção dos contratos, regras claras, tudo isso foram e são as verdadeiras causas das melhorias que todos nós experimentamos. E, mais uma vez, essas reformas não foram planejadas e implantadas pelo governo Lula. Mais uma vez, seu mérito foi manter uma política desenvolvida pelo seu antecessor.
Pensando de forma pragmática, isso não teria tanta importância para a maioria das pessoas, desde que as coisas continuassem melhorando. Mas, há aspectos de grande relevância que não podem ser ignorados. O Brasil continua não sendo um país de primeiro mundo. Problemas como segurança pública, educação com qualidade, transporte e saúde pública continuam gritando por soluções. Precisamos de reforma política e tributária, precisamos investir em infra-estrutura (não falo de estádios de futebol), urgente. Nesses quesitos continuamos iguais à ontem. O PAC (Programa de aceleração do crescimento), lançado em 2007, só concluiu 33% do que foi proposto. No setor aéreo, a situação é ainda mais grave. Quase nenhuma obra prevista no PAC foi concluída. Pior, muitas delas nem começaram. Seja por questões ambientais ou jurídicas, ou por falta de entendimento entre esfera federal e estadual, a verdade é que a maior parte dos projetos não cumpriu o cronograma original previsto, mesmo com o dinheiro disponível, o que evidencia a incapacidade do governo atual em gerir as questões públicas.  E o que faz o governo Lula? Ele lança o PAC 2 e critica o governo anterior, afinal, na lógica petista, dizer é mais do que fazer.
Entretanto, nada dito anteriormente é mais alarmante do que a obsessão de Lula pela unanimidade. Não se pode dizer nada que contrarie o Rei. Tudo contrário é artifício de uma imprensa comprometida com os interesses da "elite” perversa. Para eles, então, a censura. Aliás, mais uma lógica petista, desacreditar sempre os opositores. Se não fosse aterrorizante, certamente, seria patético. Mas é aterrorizante, chocante e assustador ouvir o presidente da república propor qualquer mecanismo de censura à imprensa. O Brasil não pode ser a Venezuela.