Durante boa parte da minha juventude, Lula foi, para mim, um herói. Nordestino miserável que migrou para São Paulo em busca de oportunidades, tornou-se torneiro mecânico de profissão e sindicalista/político de ofício. Lula era o símbolo de uma classe trabalhadora oprimida. Ele era o herói que não curvava à força do capitalismo e ao regime ditatorial. Quanta inocência, dura ilusão.
Lula não é herói, e muito menos um “Messias” como ele gosta de se imaginar. A cada dia me parece mais um oportunista mau caráter. Impressiona a sua capacidade de apropriar-se das idéias e realizações dos outros e mentir. Por exemplo, a origem do programa social bolsa família (talvez, o seu maior cabo eleitoral) foi o programa bolsa escola, desenvolvido no governo do PSDB a partir das experiências realizadas em Campinas, interior de São Paulo e Brasília (esta governada por Cristovam Buarque que não é PSDB). O conceito do programa bolsa escola era vincular o benefício dado em dinheiro com o compromisso das famílias pobres em manter as crianças na escola. O bolsa família é, na verdade, a junção do bolsa escola, do auxílio gás e do bolsa alimentação (estes também integrantes do programa de transferência de renda do governo FHC). Portanto, o mérito do governo Lula foi manter e ampliar o alcance do programa para mais sete milhões de novas famílias. Outro exemplo refere-se à própria conjuntura econômica. Há uma disposição em ocultar “as causas” do efeito. O efeito, a melhoria da conjuntura econômica, não é bastardo. Plano Real, lei de responsabilidade fiscal (esta, diga-se de passagem, repudiada pelo próprio PT), independência do Banco Central (o que possibilitou dissociar decisões técnicas das pressões políticas e eleitoreiras), controle da inflação (sem dúvida, o maior benefício para os pobres), manutenção dos contratos, regras claras, tudo isso foram e são as verdadeiras causas das melhorias que todos nós experimentamos. E, mais uma vez, essas reformas não foram planejadas e implantadas pelo governo Lula. Mais uma vez, seu mérito foi manter uma política desenvolvida pelo seu antecessor.
Pensando de forma pragmática, isso não teria tanta importância para a maioria das pessoas, desde que as coisas continuassem melhorando. Mas, há aspectos de grande relevância que não podem ser ignorados. O Brasil continua não sendo um país de primeiro mundo. Problemas como segurança pública, educação com qualidade, transporte e saúde pública continuam gritando por soluções. Precisamos de reforma política e tributária, precisamos investir em infra-estrutura (não falo de estádios de futebol), urgente. Nesses quesitos continuamos iguais à ontem. O PAC (Programa de aceleração do crescimento), lançado em 2007, só concluiu 33% do que foi proposto. No setor aéreo, a situação é ainda mais grave. Quase nenhuma obra prevista no PAC foi concluída. Pior, muitas delas nem começaram. Seja por questões ambientais ou jurídicas, ou por falta de entendimento entre esfera federal e estadual, a verdade é que a maior parte dos projetos não cumpriu o cronograma original previsto, mesmo com o dinheiro disponível, o que evidencia a incapacidade do governo atual em gerir as questões públicas. E o que faz o governo Lula? Ele lança o PAC 2 e critica o governo anterior, afinal, na lógica petista, dizer é mais do que fazer.
Entretanto, nada dito anteriormente é mais alarmante do que a obsessão de Lula pela unanimidade. Não se pode dizer nada que contrarie o Rei. Tudo contrário é artifício de uma imprensa comprometida com os interesses da "elite” perversa. Para eles, então, a censura. Aliás, mais uma lógica petista, desacreditar sempre os opositores. Se não fosse aterrorizante, certamente, seria patético. Mas é aterrorizante, chocante e assustador ouvir o presidente da república propor qualquer mecanismo de censura à imprensa. O Brasil não pode ser a Venezuela.