domingo, 26 de junho de 2011

O diagnóstico da torcida do Bahia

O bom senso indica não ser prudente contrariar malucos. Mas, infelizmente, não resisto ao meu impulso juvenil. Entretanto, ressalto que a razão para usar o meu tempo para escrever sobre a torcida do Bahia tem um propósito nobre, ajudar.
Sempre desconfiei dessa “auto-estima amplificada” da torcida tricolor. Mesmo quando viveram (e vivem) as mais variadas humilhações (jejum de títulos, descenso, derrotas acachapantes...), a arrogância sempre foi o comportamento predominante. Por mais medíocre que fosse o desempenho do time em campo (e foram vários), sempre acreditaram ser os melhores, os superiores, os singulares. A pretensão em julgarem-se grandiosos, associada à necessidade em desvalorizar as credenciais daqueles com os quais rivalizam nunca me pareceu uma atitude normal, por isso, busquei na ciência as razões que justificassem o seu comportamento.  E foi na psiquiatria que descobri que a autodenominada “doença pelo Bahia” faz o mais absoluto sentido (pelo menos nisso eles têm razão). Nesse caso, a doença tem nome, chama-se “transtorno de personalidade narcisista”.
A principal característica dos indivíduos que apresentam o transtorno é um padrão invasivo de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia (quando eu li sobre a ausência de empatia, eu juro que perdoei várias inconveniências de amigos queridos). Posso listar uma centena de situações que caracterizam os sintomas da doença. Por exemplo, ganhar dois jogos seguidos no brasileiro e adotar o rotineiro discurso de grandiosidade e superioridade mesmo estando na 11° colocação (e no inicio do campeonato), me parece mais uma demonstração de fantasia de sucesso ímpar.
Portanto, sugiro aos “doentes pelo Bahia” um esforço coletivo em conter as angústias acumuladas ao longo desses últimos vinte anos de fracasso ao público de interesse, vocês mesmos.  

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Déjà vu?

Aprendi deliciosamente com a vida que o que define um homem não é o que ele diz, e sim o que faz. Guardo esse aprendizado com muito zelo, afinal, me ensinou um pouco mais sobre as pessoas, a valorizar mais as atitudes e menos os discursos e, sobretudo, a dar a devida atenção aos fatos. Essa conduta, que para mim se tornou um valor, levo a todas as instâncias da minha vida.
E é com o foco nos fatos que analiso com bastante preocupação o atual quadro da economia brasileira. O dragão inflacionário, que outrora parecia sob controle, sinaliza perigosamente a sua volta. Em Abril, o IPCA acumulado dos últimos doze meses bateu em 6,51%, ultrapassando o teto máximo definido pelo governo. É importante ressaltar que os aumentos dos preços atingem todos os setores, com exceção apenas dos preços administrados pelo governo. Além disso, o Brasil continua convivendo com baixas taxas de investimento, apesar da crescente oferta de recursos do tesouro nacional para o BNDES, com a falta de mão de obra especializada, cada vez mais um empecilho ao crescimento brasileiro, e não fizemos as reformas tributárias e administrativas. Enfim, não melhoramos o país.
Entretanto, há um “novo/velho” ingrediente nessa receita de problemas que compõem o nosso Brasil, o renascimento da idéia desenvolvimentista. A partir da crise de 2008, a ideologia desenvolvimentista ganhou força como argumento inquestionável da importância de uma participação maior do estado na economia e de medidas protecionistas a setores da economia. Há sinais evidentes dessa crescente participação do estado, no BNDES há cinco anos o estoque de crédito correspondia a cinco bilhões de reais, esse número deve atingir 315 bilhões de reais até o final desse ano, segundo o IPEA. Nos bancos públicos, as expansões de crédito cresceram vertiginosamente. Ao mesmo tempo, medidas de proteção e subsídios a certos setores da economia ficam cada vez mais constantes.
Em resposta ao crescimento da inflação, há dois meses o governo anunciou um corte nos gastos públicos de 50 bilhões reais, o que foi recebido com bastante euforia pelo mercado. Entretanto, contrariando o que foi prometido, o governo não só não anunciou onde serão os cortes, como continua gastando muito. O tesouro nacional continua a liberar recursos para o BNDES que serão emprestados a juros subsidiados (abaixo do praticado pelo mercado) com um claro objetivo de continuar estimulando a atividade econômica. Não custa lembrar que a maioria esmagadora dos analistas econômicos aponta, justamente, o aquecimento da economia e os preços das commodities no mercado internacional como as principais razões para volta da inflação. Bom, mas se o nível de atividade econômica acima da nossa capacidade produtiva é uma das principais razões para a volta da inflação, Por que manter a demanda acima da oferta? A resposta está relacionada à idéia desenvolvimentista que um pouco de inflação com crescimento econômico e emprego pleno é recompensador. Discordo, em absoluto. A inflação compromete o poder de compra do trabalhador. É um instrumento eficiente de concentração de renda, com prejuízos sociais imensos. A estabilidade macroeconômica é quem melhor protege os mais pobres. Será um retrocesso monstruoso para a sociedade brasileira, com custos políticos proporcionais aos responsáveis. Este modelo de desenvolvimento já foi usado ao longo de 30 anos (dos anos 50 aos anos 80) e que culminou em todos os problemas sociais conhecidos.
Mais do que discursos e boas intenções, o que precisamos nesse momento é de responsabilidade e coerência. Os avanços econômicos que a sociedade brasileira experimenta nos últimos anos não  são conseqüências de ideologias de esquerda ou direita. Essas conquistas são frutos de trabalhos técnicos, desenvolvidos a partir de estudos e experiências adquiridas ao longo dos anos. O Brasil não pode retroceder.


domingo, 2 de janeiro de 2011

Burrice à Esquerda

Foi o desejo de melhorar suas condições de vida que fez os homens saírem das cavernas. Essa necessidade é tão antiga quanto o próprio homem. Não fosse isso, talvez vivêssemos todos na pré-história.
Economia é a atividade que aborda a preocupação do homem com o seu conforto material. O termo economia origina-se das palavras gregas oikos (casa) e nomos (normas). Na Grécia antiga, Economia significava a arte de bem administrar o lar. Posteriormente, as normas relativas à administração do lar foram estendidas às polis (cidades-estados). Nascia à economia tal como conhecemos hoje, com menos complexidades, obviamente.
Modernamente, define-se Economia como a ciência que estuda o uso de recursos escassos para fins alternativos. Os recursos escassos são os bens (Alimentos, vestuário, máquinas, etc.) e serviços (Saúde, educação, entretenimento, etc.) empregados na produção, mediante o uso de uma tecnologia conhecida. Os usos são alternativos, porque os fatores e as matérias-prima podem ser utilizados para a produção dos mais variados bens ou serviços.
A atividade econômica é desenvolvida nos mercados, definido pelos economistas como um conjunto de compradores e vendedores que negociam a obtenção de um determinado produto (Bens ou serviços) oferecendo algo em troca, normalmente, as moedas (Há casos de trocas que não envolvem moedas, são as permutas ou transferências, por exemplo).
Exposto o meu esforço em tentar explicar o que é economia, passamos a discutir a notável colaboração do pensamento de esquerda, burramente posicionada como anti-mercado. À esquerda, auto-intitulada como progressista e preocupada com os interesses sociais, esforça-se em negar a importância social dos mercados, e a sua validade histórica.  Ora, não foram os mercados que muito contribuíram para o desenvolvimento da sociedade a níveis mais avançados de organização social da produção e distribuição de bens e serviços? Não foram esses avanços que trouxeram (e trazem) benefícios à vida das pessoas?  Qual contribuição prática o comunismo deu à sociedade? Pergunto-me dezenas de vezes na tentativa de entender a razão pelas quais infinitas almas bem intencionadas são seduzidas pelos ideais de esquerda.  
Talvez a resposta esteja com a Filosofia. Em sua obra “O nascimento da tragédia”, Nietzsche sugere que a concepção do pensamento ocidental ficou comprometida em função da interpretação equivocada de Sócrates sobre as tragédias gregas. Para Nietzsche, a tragédia grega é gerada pela duplicidade dos dois impulsos artísticos, o apolíneo e o dionisíaco. Apolo, o Deus da verdade, da beleza, da harmonia, do equilíbrio e da razão. Dionísio, o Deus das festas, do vinho, da alegria. Entretanto, a morte da tragédia grega seria resultado da contradição do dionisíaco e do socrático. É através das características socráticas que os êxtases dionisíacos dão lugar aos princípios estéticos, acabando por condenar os instintos. Com isso, a compreensão trágica da existência é aniquilada e que desta nova tendência socrática nasce uma nova forma de existência, a do homem teórico. A partir do declínio da tragédia, a cultura tem como atividade suprema a busca insaciável pelo saber. E para Sócrates, a única função do saber era o autoconhecimento; o crescimento intelectual, moral e espiritual.
Assim, fundamenta-se a base do pensamento ocidental.   Talvez dessa contradição, floresça o entendimento ao apego das idéias em detrimento ao pragmatismo da vida real. Talvez dessa deformação, nasça a compreensão que as idéias não podem estar dissociadas da realidade mundana. Ser progressista é, sobretudo, viabilizar soluções práticas aos problemas do cotidiano, sem que isso signifique negar as necessidades humanas, individuais ou coletivas.




quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Marx, um erro em retrospectiva

 Em seu Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels definiram o capitalismo como um regime contraditório. A classe capitalista e o proletariado tinham interesses antagônicos e, por isso, era um regime fadado ao fracasso. Em algum momento aos proletários (Classe oprimida pela burguesia) não restariam alternativas a não ser promover a “revolução proletária”.
Contudo, o que vimos foi justamente o contrário. O comunismo entrou em colapso e o capitalismo se estabeleceu como o regime dominante. Peter Drucker em seu livro “O Homem,” credita o erro de Marx à revolução da produtividade ocorrida após o surgimento da escola de administração científica. Essa escola enfatizava a aplicação do conhecimento ao trabalho (estudo e analise das tarefas e aplicação de métodos científicos aos problemas da administração) objetivando elevar o nível de produtividade. Esse ganho de produtividade permitiu uma maior harmonia nas relações entre capitalistas e trabalhadores, uma vez que ambos se beneficiavam. As empresas produziam mais e a custos menores, aumentando os seus ganhos, e os proletários de Marx conquistavam melhorias nas condições de trabalho, como redução da jornada, melhores salários, aumento da renda, aumento do poder de compra, etc.. Dessa forma, o proletariado tornou-se ”burguesia” com um padrão de vida mais elevado e, por isso, a tão propagada revolução proletária prevista por Marx não aconteceu nos países desenvolvidos, nem mesmo durante as crises econômicas (como na grande depressão de 1929). É verdade que esse raciocínio só é possível em retrospectiva, haja vista que os proletários da época de Marx viviam sem dúvida alguma em condições precárias. Entretanto, o que Marx não enxergou é que o ódio nutrido entre as duas classes era absolutamente reversível.
 O crescimento exponencial da oferta de produtos e o surgimento de novos concorrentes (locais e globais) trouxeram um elemento novo à indústria, a importância do conhecimento como um novo recurso de produção. Os fatores tradicionais de produção de Adam Smith (Terra, Mão de obra, Capital) tornaram-se secundários na medida em que apenas eles deixam de ser suficientes para a perpetuação dos negócios. Assim, cria-se uma relação de interdependência entre os donos do capital (Capitalistas) e os trabalhadores do conhecimento, essenciais na capacidade de gerar resultados positivos às organizações. Na mesma medida, a moderna organização amplia, por exigências da própria sociedade, sua participação na questão da responsabilidade social. O desempenho econômico deixa de ser a sua única responsabilidade e aspectos relacionados ao ambiente, clientes, funcionários, saúde social ganham relevância nos objetivos organizacionais.
Adam Smith, na sua teoria do liberalismo econômico, já defendia que a os agentes econômicos são movidos por impulsos de crescimento e desenvolvimento econômico, o que a priori poderia ser entendido como uma ganância individual, entretanto, em um contexto mais amplo, percebe-se que são justamente esses impulsos que proporcionam os benefícios para a sociedade, uma vez que a soma desses interesses particulares é que promove a própria evolução generalizada.
Acredito na sociedade e nos seus indivíduos, e no Estado como instituição reguladora. O Estado onipresente serve apenas para aumentar os casos de corrupção, nepotismo e favorecimentos. Sou um entusiasta da educação. É através dela que transformaremos a sociedade e os indivíduos. Sobretudo, porque é a partir da educação que desenvolveremos senso crítico e discernimento. O Brasil é um país cheio de problemas e contradições. Precisamos avançar e isso significa mais reformas. É necessário mais. Quero andar e olhar para frente, é preciso deixar de olhar pelo retrovisor. Há muito chão para percorrer.







sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Momento de pagar a conta

O alto fluxo de capitais especulativos para os países emergentes, atraídos por maiores taxas de juros e, portanto, com maiores expectativas de ganhos, traz conseqüências malignas para suas economias.  Elevação das moedas locais em relação ao Dólar, aumento dos preços das ações e outros ativos, são alguns dos efeitos causados.
No Brasil, ainda não há sinais de bolhas no mercado de ações ou em qualquer outro, segundo os especialistas. No entanto, a valorização do cambio tem sido acentuada, contribuindo para a deterioração da balança comercial. Produtos externos tornaram-se mais baratos, favorecendo a importação, e produtos brasileiros perderam competitividade, implicando em menores exportações. Enquanto as exportações brasileiras desaceleraram em 28%, as importações cresceram 44%, comparando os mesmos períodos entre 2010 e 2009, reduzindo o saldo comercial em mais de 36%. Numa tentativa de frear o ingresso de capitais especulativos, o governo brasileiro aumentou a alíquota do IOF, o que provavelmente ajudará a conter a alta do cambio. Mas tal medida será insuficiente para mudar a tendência do comércio. A valorização do cambio explica parcialmente o descompasso entre as importações e exportações. Outro fator tem contribuído para esse descompasso, o crescimento da demanda interna alimentado pelo aumento da renda, da oferta de empregos e ampliação do crédito. Associado a esse cenário interno, há o aumento das taxas de juros chinesas o que empurra ainda mais incertezas para o futuro, na medida em que não se sabe o quanto isso afetará o crescimento chinês e o seu apetite por commodities, principal grupo de produtos exportados pelo Brasil. Contudo, os produtos importados têm ajudado a manter a inflação sobre controle, como declarou recentemente a FGV. As limitações da nossa capacidade produtiva têm sido compensadas pelo crescimento das importações, reduzindo, assim, as pressões inflacionárias. Há no atual cenário outro elemento relevante, o aumento do déficit público, em decorrência do crescimento desenfreado dos gastos do governo, o que contribui fortemente para a dependência em relação aos juros básicos em níveis elevados. Sobre os gastos do governo, é importante ressaltar que referem-se a gastos com o custeio da máquina administrativa, e não investimentos. Com isso, nossas esperanças em relação às melhorias da nossa infra-estrutura e redução do chamado Custo Brasil, o que melhoraria em muito nossa competitividade, se desfazem instantaneamente (O PAC ainda não passou de boa intenção e muita propaganda). Assim, o Brasil torna-se refém das importações, sob pena da volta da inflação, dos juros altos, é preciso financiar o déficit, e não criamos condições para sairmos desse quadro preocupante.
Por princípios não costumo subestimar a inteligência alheia. Desconfio que o governo petista aposte suas fichas nas receitas estimadas a partir do pré-sal (assunto para outra postagem). Entretanto, é evidente que esse cenário é altamente prejudicial para a saúde econômica brasileira. Cambio desfavorável por longo tempo implica na desindustrialização de setores produtivos e juros altos desestimulam investimentos e encarecem o crédito. Tudo isso, naturalmente, afetará a oferta de emprego e geração da renda. Portanto, inevitavelmente, o próximo governo terá que pagar essa conta do governo Lula, sob pena de vivermos um retrocesso econômico com conseqüências na vida das pessoas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Mais uma mentira Petista

Recentemente, assisti ao horário eleitoral e ouvi o programa da candidata Dilma afirmar que o presidente FHC só governou para uma classe social, a dos ricos. Não me surpreendeu a mentira, afinal, conheço a lógica do PT, não importam os meios desde que o objetivo seja pela causa (deles, obviamente). Entretanto, mentiras dessa natureza contribuem de maneira significativa para a desinformação.
A concentração de renda no Brasil é histórica. Desde o período da colonização, a produção na forma de plantation (mão-de-obra escrava, latifúndios, foco na exportação), o processo de exclusão social deu início. Esse perfil concentrador esteve presente em outros momentos de nossa história, inclusive no processo de industrialização, a partir da década de 1930. Aliás, para consolidar a industrialização, o Brasil adotou como estratégia de desenvolvimento um modelo que contribuiu ainda mais para concentrar a renda nas mãos de poucos privilegiados.
No processo de transição de uma economia rural para uma economia industrializada, a economia brasileira não dispunha de mecanismos desenvolvidos de captação de recursos privados e nem mesmo poupança suficiente para alavancar o crescimento econômico. Assim, restava ao governo financiar a si próprio, o que provocou déficits públicos gigantescos e a necessidade de emitir moeda para cobri-lo. O efeito colateral dessa medida era o processo inflacionário. Entretanto, a inflação decorrente desse mecanismo era vista como conseqüência natural do desenvolvimento econômico em uma economia que não dispunha de instrumentos de captação de recursos. Acontece que os processos inflacionários se caracterizam por reforçar os instrumentos concentradores de renda, pois a inflação ao reduzir a renda real através dos aumentos de preços transfere renda dos trabalhadores para os indivíduos que vivem de aplicações financeiras e, com isso, conseguem proteger-se dos males inflacionários, e dos indivíduos para o Estado. Portanto, a industrialização da década de 30 desenvolveu-se através da intervenção estatal, mesmo que isso significasse usar um instrumento concentrador de renda, a inflação.
Apenas a partir do Plano Real, essa lógica foi desmontada. Após o fracasso do Plano Cruzado, os economistas entenderam que o controle do processo inflacionário passava também pela definição de um novo modelo de desenvolvimento. Ou seja, era preciso romper com o antigo modelo e abandonar a economia fechada e autárquica (Daí, as privatizações). O Plano Real foi, sobretudo, uma tentativa de romper com um modelo de financiamento econômico esgotado do ponto de vista político, afinal, o custo social gerado através da inflação se tornara insuportável, e comprovadamente inviável a longo prazo.
Não se discute o sucesso do Plano Real. Todas as melhorias que experimentamos são conseqüência das reformas feitas para viabilizá-lo. Foi a partir do controle inflacionário que efetivamente começou o processo de redistribuição da renda nacional. Isso é inegável (e caso houvesse um mínimo de seriedade em Lula, seria reconhecido). No entanto, os benefícios originários do controle inflacionário se esgotaram. O controle da inflação consiste numa condição necessária, mas não suficiente para alterar o perfil de concentração. Para avançarmos, serão necessárias mais reformas que diminuam o desequilíbrio fiscal e, conseqüentemente, a necessidade de uma política monetária mais austera. Mas é exatamente a partir desse ponto que começam as minhas desconfianças com relação à proposta do PT. Estado maiúsculo? Estado como provedor do crescimento econômico? Mas não foi exatamente isso que nos levou ao colapso da década de 80? Será que nós vamos repetir a história?
Talvez essa falta de entendimento tenha relação com essa postura simplista de achar que tudo é uma questão de boa vontade ou boa intenção. Ou talvez tenha relação com a postura arrogante em desqualificar e se fechar aos que contrariam as suas crendices, rotulando-os de “analfabetos políticos” ou classificando a sua opinião de “sem embasamento”. Finalizo, citando uma declaração do economista de Harvard, Ricardo Haussmann, que li nessa semana: “A grande sorte do presidente Lula foi ter tido um ótimo antecessor. Mas o seu sucessor não terá a mesma  sorte.”.

domingo, 10 de outubro de 2010

No esporte, o branding entra em campo.

No Brasil, ainda é comum confederações, federações e clubes abusarem da incompetência administrativa em razão, principalmente, da fidelidade que os torcedores apaixonados têm por determinado tipo de esporte (ou clube). Há pouco planejamento estratégico formal, há pouco profissionalismo. No entanto, cada vez mais os fãs esportivos têm mais opções para gastar seu dinheiro. Cada vez mais o esporte concorre com outras formas de entretenimento, tanto para o lar, como DVDs, internet, TV a cabo, videogames, o que aumenta a conveniência das pessoas para não saírem de casa, quanto às diversas formas de entretenimento fora do lar, tais como cinema, restaurantes, teatros, shoppings, cafés , todos disputando seu espaço no orçamento de cada cliente.  Esse cenário, somado às exigências cada vez maiores de investimentos vultosos para competir e manter-se atraente aos olhos dos torcedores, torna imprescindível às instituições esportivas desenvolverem e implantarem estratégias de gestão que garantam demanda permanente por seus produtos e, consequentemente, longevidade e fortalecimento do negócio.
A indústria do esporte enfrenta outro desafio adicional, diferentemente que qualquer outra atividade de entretenimento, a imprevisibilidade. No mundo esportivo, o desempenho é a principal razão de ligação com os torcedores. Portanto, tratando-se de um produto baseado no desempenho, a melhor estratégia de marketing é vencer sempre e obter alta qualidade de performance nas competições que participa. Entretanto, ganhar e perder são partes inerentes ao esporte, e, por isso, há pouco controle sobre o que vai acontecer em campo. Portanto, é fundamental tentar minimizar o efeito da imprevisibilidade e planejar uma conexão com os torcedores que não seja interrompida por possíveis fracassos (muitas vezes, inevitáveis). Daí surge a importância da gestão da marca ou, simplesmente, do branding.
O termo branding pode ser definido como “conjunto de atividades (pesquisa de mercado, posicionamento, comunicação integrada, design, finanças e proteção legal) que visa aperfeiçoar a gestão das marcas de uma organização como diferencial competitivo”. Segundo Kotler, “uma marca forte é uma forma de promessa ao consumidor que desperta uma série de associações mentais que os mercados conseguem prontamente identificar a respeito do “produto”, como confiabilidade, nível de desempenho, personalidade, conforto e acesso". Na construção de marcas, os diferenciais competitivos podem ser estabelecidos a partir de conexões mais racionais - relacionadas ao desempenho do produto em si – ou mais emocionais – relacionadas aquilo que a marca representa. Para os consumidores, as marcas fortes assumem significados especiais. Esses significados podem ser tão intensos e profundos que o relacionamento entre marca e o consumidor pode evoluir para um tipo de vínculo ou pacto. As marcas podem refletir valores, ideias, sentimentos, emoções que “consumir” tais produtos pode comunicar a outros o tipo de pessoa que são ou gostariam de ser (no caso do esporte, um apelo bastante significativo).
Embora o marketing (e o branding) tenha como componentes a criatividade e a originalidade, adotar práticas profissionais é fator determinante para o sucesso de qualquer estratégia de marketing. Os consumidores torcem.