quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Marx, um erro em retrospectiva

 Em seu Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels definiram o capitalismo como um regime contraditório. A classe capitalista e o proletariado tinham interesses antagônicos e, por isso, era um regime fadado ao fracasso. Em algum momento aos proletários (Classe oprimida pela burguesia) não restariam alternativas a não ser promover a “revolução proletária”.
Contudo, o que vimos foi justamente o contrário. O comunismo entrou em colapso e o capitalismo se estabeleceu como o regime dominante. Peter Drucker em seu livro “O Homem,” credita o erro de Marx à revolução da produtividade ocorrida após o surgimento da escola de administração científica. Essa escola enfatizava a aplicação do conhecimento ao trabalho (estudo e analise das tarefas e aplicação de métodos científicos aos problemas da administração) objetivando elevar o nível de produtividade. Esse ganho de produtividade permitiu uma maior harmonia nas relações entre capitalistas e trabalhadores, uma vez que ambos se beneficiavam. As empresas produziam mais e a custos menores, aumentando os seus ganhos, e os proletários de Marx conquistavam melhorias nas condições de trabalho, como redução da jornada, melhores salários, aumento da renda, aumento do poder de compra, etc.. Dessa forma, o proletariado tornou-se ”burguesia” com um padrão de vida mais elevado e, por isso, a tão propagada revolução proletária prevista por Marx não aconteceu nos países desenvolvidos, nem mesmo durante as crises econômicas (como na grande depressão de 1929). É verdade que esse raciocínio só é possível em retrospectiva, haja vista que os proletários da época de Marx viviam sem dúvida alguma em condições precárias. Entretanto, o que Marx não enxergou é que o ódio nutrido entre as duas classes era absolutamente reversível.
 O crescimento exponencial da oferta de produtos e o surgimento de novos concorrentes (locais e globais) trouxeram um elemento novo à indústria, a importância do conhecimento como um novo recurso de produção. Os fatores tradicionais de produção de Adam Smith (Terra, Mão de obra, Capital) tornaram-se secundários na medida em que apenas eles deixam de ser suficientes para a perpetuação dos negócios. Assim, cria-se uma relação de interdependência entre os donos do capital (Capitalistas) e os trabalhadores do conhecimento, essenciais na capacidade de gerar resultados positivos às organizações. Na mesma medida, a moderna organização amplia, por exigências da própria sociedade, sua participação na questão da responsabilidade social. O desempenho econômico deixa de ser a sua única responsabilidade e aspectos relacionados ao ambiente, clientes, funcionários, saúde social ganham relevância nos objetivos organizacionais.
Adam Smith, na sua teoria do liberalismo econômico, já defendia que a os agentes econômicos são movidos por impulsos de crescimento e desenvolvimento econômico, o que a priori poderia ser entendido como uma ganância individual, entretanto, em um contexto mais amplo, percebe-se que são justamente esses impulsos que proporcionam os benefícios para a sociedade, uma vez que a soma desses interesses particulares é que promove a própria evolução generalizada.
Acredito na sociedade e nos seus indivíduos, e no Estado como instituição reguladora. O Estado onipresente serve apenas para aumentar os casos de corrupção, nepotismo e favorecimentos. Sou um entusiasta da educação. É através dela que transformaremos a sociedade e os indivíduos. Sobretudo, porque é a partir da educação que desenvolveremos senso crítico e discernimento. O Brasil é um país cheio de problemas e contradições. Precisamos avançar e isso significa mais reformas. É necessário mais. Quero andar e olhar para frente, é preciso deixar de olhar pelo retrovisor. Há muito chão para percorrer.







sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Momento de pagar a conta

O alto fluxo de capitais especulativos para os países emergentes, atraídos por maiores taxas de juros e, portanto, com maiores expectativas de ganhos, traz conseqüências malignas para suas economias.  Elevação das moedas locais em relação ao Dólar, aumento dos preços das ações e outros ativos, são alguns dos efeitos causados.
No Brasil, ainda não há sinais de bolhas no mercado de ações ou em qualquer outro, segundo os especialistas. No entanto, a valorização do cambio tem sido acentuada, contribuindo para a deterioração da balança comercial. Produtos externos tornaram-se mais baratos, favorecendo a importação, e produtos brasileiros perderam competitividade, implicando em menores exportações. Enquanto as exportações brasileiras desaceleraram em 28%, as importações cresceram 44%, comparando os mesmos períodos entre 2010 e 2009, reduzindo o saldo comercial em mais de 36%. Numa tentativa de frear o ingresso de capitais especulativos, o governo brasileiro aumentou a alíquota do IOF, o que provavelmente ajudará a conter a alta do cambio. Mas tal medida será insuficiente para mudar a tendência do comércio. A valorização do cambio explica parcialmente o descompasso entre as importações e exportações. Outro fator tem contribuído para esse descompasso, o crescimento da demanda interna alimentado pelo aumento da renda, da oferta de empregos e ampliação do crédito. Associado a esse cenário interno, há o aumento das taxas de juros chinesas o que empurra ainda mais incertezas para o futuro, na medida em que não se sabe o quanto isso afetará o crescimento chinês e o seu apetite por commodities, principal grupo de produtos exportados pelo Brasil. Contudo, os produtos importados têm ajudado a manter a inflação sobre controle, como declarou recentemente a FGV. As limitações da nossa capacidade produtiva têm sido compensadas pelo crescimento das importações, reduzindo, assim, as pressões inflacionárias. Há no atual cenário outro elemento relevante, o aumento do déficit público, em decorrência do crescimento desenfreado dos gastos do governo, o que contribui fortemente para a dependência em relação aos juros básicos em níveis elevados. Sobre os gastos do governo, é importante ressaltar que referem-se a gastos com o custeio da máquina administrativa, e não investimentos. Com isso, nossas esperanças em relação às melhorias da nossa infra-estrutura e redução do chamado Custo Brasil, o que melhoraria em muito nossa competitividade, se desfazem instantaneamente (O PAC ainda não passou de boa intenção e muita propaganda). Assim, o Brasil torna-se refém das importações, sob pena da volta da inflação, dos juros altos, é preciso financiar o déficit, e não criamos condições para sairmos desse quadro preocupante.
Por princípios não costumo subestimar a inteligência alheia. Desconfio que o governo petista aposte suas fichas nas receitas estimadas a partir do pré-sal (assunto para outra postagem). Entretanto, é evidente que esse cenário é altamente prejudicial para a saúde econômica brasileira. Cambio desfavorável por longo tempo implica na desindustrialização de setores produtivos e juros altos desestimulam investimentos e encarecem o crédito. Tudo isso, naturalmente, afetará a oferta de emprego e geração da renda. Portanto, inevitavelmente, o próximo governo terá que pagar essa conta do governo Lula, sob pena de vivermos um retrocesso econômico com conseqüências na vida das pessoas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Mais uma mentira Petista

Recentemente, assisti ao horário eleitoral e ouvi o programa da candidata Dilma afirmar que o presidente FHC só governou para uma classe social, a dos ricos. Não me surpreendeu a mentira, afinal, conheço a lógica do PT, não importam os meios desde que o objetivo seja pela causa (deles, obviamente). Entretanto, mentiras dessa natureza contribuem de maneira significativa para a desinformação.
A concentração de renda no Brasil é histórica. Desde o período da colonização, a produção na forma de plantation (mão-de-obra escrava, latifúndios, foco na exportação), o processo de exclusão social deu início. Esse perfil concentrador esteve presente em outros momentos de nossa história, inclusive no processo de industrialização, a partir da década de 1930. Aliás, para consolidar a industrialização, o Brasil adotou como estratégia de desenvolvimento um modelo que contribuiu ainda mais para concentrar a renda nas mãos de poucos privilegiados.
No processo de transição de uma economia rural para uma economia industrializada, a economia brasileira não dispunha de mecanismos desenvolvidos de captação de recursos privados e nem mesmo poupança suficiente para alavancar o crescimento econômico. Assim, restava ao governo financiar a si próprio, o que provocou déficits públicos gigantescos e a necessidade de emitir moeda para cobri-lo. O efeito colateral dessa medida era o processo inflacionário. Entretanto, a inflação decorrente desse mecanismo era vista como conseqüência natural do desenvolvimento econômico em uma economia que não dispunha de instrumentos de captação de recursos. Acontece que os processos inflacionários se caracterizam por reforçar os instrumentos concentradores de renda, pois a inflação ao reduzir a renda real através dos aumentos de preços transfere renda dos trabalhadores para os indivíduos que vivem de aplicações financeiras e, com isso, conseguem proteger-se dos males inflacionários, e dos indivíduos para o Estado. Portanto, a industrialização da década de 30 desenvolveu-se através da intervenção estatal, mesmo que isso significasse usar um instrumento concentrador de renda, a inflação.
Apenas a partir do Plano Real, essa lógica foi desmontada. Após o fracasso do Plano Cruzado, os economistas entenderam que o controle do processo inflacionário passava também pela definição de um novo modelo de desenvolvimento. Ou seja, era preciso romper com o antigo modelo e abandonar a economia fechada e autárquica (Daí, as privatizações). O Plano Real foi, sobretudo, uma tentativa de romper com um modelo de financiamento econômico esgotado do ponto de vista político, afinal, o custo social gerado através da inflação se tornara insuportável, e comprovadamente inviável a longo prazo.
Não se discute o sucesso do Plano Real. Todas as melhorias que experimentamos são conseqüência das reformas feitas para viabilizá-lo. Foi a partir do controle inflacionário que efetivamente começou o processo de redistribuição da renda nacional. Isso é inegável (e caso houvesse um mínimo de seriedade em Lula, seria reconhecido). No entanto, os benefícios originários do controle inflacionário se esgotaram. O controle da inflação consiste numa condição necessária, mas não suficiente para alterar o perfil de concentração. Para avançarmos, serão necessárias mais reformas que diminuam o desequilíbrio fiscal e, conseqüentemente, a necessidade de uma política monetária mais austera. Mas é exatamente a partir desse ponto que começam as minhas desconfianças com relação à proposta do PT. Estado maiúsculo? Estado como provedor do crescimento econômico? Mas não foi exatamente isso que nos levou ao colapso da década de 80? Será que nós vamos repetir a história?
Talvez essa falta de entendimento tenha relação com essa postura simplista de achar que tudo é uma questão de boa vontade ou boa intenção. Ou talvez tenha relação com a postura arrogante em desqualificar e se fechar aos que contrariam as suas crendices, rotulando-os de “analfabetos políticos” ou classificando a sua opinião de “sem embasamento”. Finalizo, citando uma declaração do economista de Harvard, Ricardo Haussmann, que li nessa semana: “A grande sorte do presidente Lula foi ter tido um ótimo antecessor. Mas o seu sucessor não terá a mesma  sorte.”.

domingo, 10 de outubro de 2010

No esporte, o branding entra em campo.

No Brasil, ainda é comum confederações, federações e clubes abusarem da incompetência administrativa em razão, principalmente, da fidelidade que os torcedores apaixonados têm por determinado tipo de esporte (ou clube). Há pouco planejamento estratégico formal, há pouco profissionalismo. No entanto, cada vez mais os fãs esportivos têm mais opções para gastar seu dinheiro. Cada vez mais o esporte concorre com outras formas de entretenimento, tanto para o lar, como DVDs, internet, TV a cabo, videogames, o que aumenta a conveniência das pessoas para não saírem de casa, quanto às diversas formas de entretenimento fora do lar, tais como cinema, restaurantes, teatros, shoppings, cafés , todos disputando seu espaço no orçamento de cada cliente.  Esse cenário, somado às exigências cada vez maiores de investimentos vultosos para competir e manter-se atraente aos olhos dos torcedores, torna imprescindível às instituições esportivas desenvolverem e implantarem estratégias de gestão que garantam demanda permanente por seus produtos e, consequentemente, longevidade e fortalecimento do negócio.
A indústria do esporte enfrenta outro desafio adicional, diferentemente que qualquer outra atividade de entretenimento, a imprevisibilidade. No mundo esportivo, o desempenho é a principal razão de ligação com os torcedores. Portanto, tratando-se de um produto baseado no desempenho, a melhor estratégia de marketing é vencer sempre e obter alta qualidade de performance nas competições que participa. Entretanto, ganhar e perder são partes inerentes ao esporte, e, por isso, há pouco controle sobre o que vai acontecer em campo. Portanto, é fundamental tentar minimizar o efeito da imprevisibilidade e planejar uma conexão com os torcedores que não seja interrompida por possíveis fracassos (muitas vezes, inevitáveis). Daí surge a importância da gestão da marca ou, simplesmente, do branding.
O termo branding pode ser definido como “conjunto de atividades (pesquisa de mercado, posicionamento, comunicação integrada, design, finanças e proteção legal) que visa aperfeiçoar a gestão das marcas de uma organização como diferencial competitivo”. Segundo Kotler, “uma marca forte é uma forma de promessa ao consumidor que desperta uma série de associações mentais que os mercados conseguem prontamente identificar a respeito do “produto”, como confiabilidade, nível de desempenho, personalidade, conforto e acesso". Na construção de marcas, os diferenciais competitivos podem ser estabelecidos a partir de conexões mais racionais - relacionadas ao desempenho do produto em si – ou mais emocionais – relacionadas aquilo que a marca representa. Para os consumidores, as marcas fortes assumem significados especiais. Esses significados podem ser tão intensos e profundos que o relacionamento entre marca e o consumidor pode evoluir para um tipo de vínculo ou pacto. As marcas podem refletir valores, ideias, sentimentos, emoções que “consumir” tais produtos pode comunicar a outros o tipo de pessoa que são ou gostariam de ser (no caso do esporte, um apelo bastante significativo).
Embora o marketing (e o branding) tenha como componentes a criatividade e a originalidade, adotar práticas profissionais é fator determinante para o sucesso de qualquer estratégia de marketing. Os consumidores torcem.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Lula, uma dura ilusão

Durante boa parte da minha juventude, Lula foi, para mim, um herói. Nordestino miserável que migrou para São Paulo em busca de oportunidades, tornou-se torneiro mecânico de profissão e sindicalista/político de ofício. Lula era o símbolo de uma classe trabalhadora oprimida. Ele era o herói que não curvava à força do capitalismo e ao regime ditatorial. Quanta inocência, dura ilusão.
Lula não é herói, e muito menos um “Messias” como ele gosta de se imaginar. A cada dia me parece mais um oportunista mau caráter. Impressiona a sua capacidade de apropriar-se das idéias e realizações dos outros e mentir. Por exemplo, a origem do programa social bolsa família (talvez, o seu maior cabo eleitoral) foi o programa bolsa escola, desenvolvido no governo do PSDB a partir das experiências realizadas em Campinas, interior de São Paulo e Brasília (esta governada por Cristovam Buarque que não é PSDB). O conceito do programa bolsa escola era vincular o benefício dado em dinheiro com o compromisso das famílias pobres em manter as crianças na escola. O bolsa família é, na verdade, a junção do bolsa escola, do auxílio gás e do bolsa alimentação (estes também integrantes do programa de transferência de renda  do governo FHC). Portanto, o mérito do governo Lula foi manter e ampliar o alcance do programa para mais sete milhões de novas famílias. Outro exemplo refere-se à própria conjuntura econômica. Há uma disposição em ocultar “as causas” do efeito. O efeito, a melhoria da conjuntura econômica, não é bastardo. Plano Real, lei de responsabilidade fiscal (esta, diga-se de passagem, repudiada pelo próprio PT), independência do Banco Central (o que possibilitou dissociar decisões técnicas das pressões políticas e eleitoreiras), controle da inflação (sem dúvida, o maior benefício para os pobres), manutenção dos contratos, regras claras, tudo isso foram e são as verdadeiras causas das melhorias que todos nós experimentamos. E, mais uma vez, essas reformas não foram planejadas e implantadas pelo governo Lula. Mais uma vez, seu mérito foi manter uma política desenvolvida pelo seu antecessor.
Pensando de forma pragmática, isso não teria tanta importância para a maioria das pessoas, desde que as coisas continuassem melhorando. Mas, há aspectos de grande relevância que não podem ser ignorados. O Brasil continua não sendo um país de primeiro mundo. Problemas como segurança pública, educação com qualidade, transporte e saúde pública continuam gritando por soluções. Precisamos de reforma política e tributária, precisamos investir em infra-estrutura (não falo de estádios de futebol), urgente. Nesses quesitos continuamos iguais à ontem. O PAC (Programa de aceleração do crescimento), lançado em 2007, só concluiu 33% do que foi proposto. No setor aéreo, a situação é ainda mais grave. Quase nenhuma obra prevista no PAC foi concluída. Pior, muitas delas nem começaram. Seja por questões ambientais ou jurídicas, ou por falta de entendimento entre esfera federal e estadual, a verdade é que a maior parte dos projetos não cumpriu o cronograma original previsto, mesmo com o dinheiro disponível, o que evidencia a incapacidade do governo atual em gerir as questões públicas.  E o que faz o governo Lula? Ele lança o PAC 2 e critica o governo anterior, afinal, na lógica petista, dizer é mais do que fazer.
Entretanto, nada dito anteriormente é mais alarmante do que a obsessão de Lula pela unanimidade. Não se pode dizer nada que contrarie o Rei. Tudo contrário é artifício de uma imprensa comprometida com os interesses da "elite” perversa. Para eles, então, a censura. Aliás, mais uma lógica petista, desacreditar sempre os opositores. Se não fosse aterrorizante, certamente, seria patético. Mas é aterrorizante, chocante e assustador ouvir o presidente da república propor qualquer mecanismo de censura à imprensa. O Brasil não pode ser a Venezuela.