segunda-feira, 9 de maio de 2011

Déjà vu?

Aprendi deliciosamente com a vida que o que define um homem não é o que ele diz, e sim o que faz. Guardo esse aprendizado com muito zelo, afinal, me ensinou um pouco mais sobre as pessoas, a valorizar mais as atitudes e menos os discursos e, sobretudo, a dar a devida atenção aos fatos. Essa conduta, que para mim se tornou um valor, levo a todas as instâncias da minha vida.
E é com o foco nos fatos que analiso com bastante preocupação o atual quadro da economia brasileira. O dragão inflacionário, que outrora parecia sob controle, sinaliza perigosamente a sua volta. Em Abril, o IPCA acumulado dos últimos doze meses bateu em 6,51%, ultrapassando o teto máximo definido pelo governo. É importante ressaltar que os aumentos dos preços atingem todos os setores, com exceção apenas dos preços administrados pelo governo. Além disso, o Brasil continua convivendo com baixas taxas de investimento, apesar da crescente oferta de recursos do tesouro nacional para o BNDES, com a falta de mão de obra especializada, cada vez mais um empecilho ao crescimento brasileiro, e não fizemos as reformas tributárias e administrativas. Enfim, não melhoramos o país.
Entretanto, há um “novo/velho” ingrediente nessa receita de problemas que compõem o nosso Brasil, o renascimento da idéia desenvolvimentista. A partir da crise de 2008, a ideologia desenvolvimentista ganhou força como argumento inquestionável da importância de uma participação maior do estado na economia e de medidas protecionistas a setores da economia. Há sinais evidentes dessa crescente participação do estado, no BNDES há cinco anos o estoque de crédito correspondia a cinco bilhões de reais, esse número deve atingir 315 bilhões de reais até o final desse ano, segundo o IPEA. Nos bancos públicos, as expansões de crédito cresceram vertiginosamente. Ao mesmo tempo, medidas de proteção e subsídios a certos setores da economia ficam cada vez mais constantes.
Em resposta ao crescimento da inflação, há dois meses o governo anunciou um corte nos gastos públicos de 50 bilhões reais, o que foi recebido com bastante euforia pelo mercado. Entretanto, contrariando o que foi prometido, o governo não só não anunciou onde serão os cortes, como continua gastando muito. O tesouro nacional continua a liberar recursos para o BNDES que serão emprestados a juros subsidiados (abaixo do praticado pelo mercado) com um claro objetivo de continuar estimulando a atividade econômica. Não custa lembrar que a maioria esmagadora dos analistas econômicos aponta, justamente, o aquecimento da economia e os preços das commodities no mercado internacional como as principais razões para volta da inflação. Bom, mas se o nível de atividade econômica acima da nossa capacidade produtiva é uma das principais razões para a volta da inflação, Por que manter a demanda acima da oferta? A resposta está relacionada à idéia desenvolvimentista que um pouco de inflação com crescimento econômico e emprego pleno é recompensador. Discordo, em absoluto. A inflação compromete o poder de compra do trabalhador. É um instrumento eficiente de concentração de renda, com prejuízos sociais imensos. A estabilidade macroeconômica é quem melhor protege os mais pobres. Será um retrocesso monstruoso para a sociedade brasileira, com custos políticos proporcionais aos responsáveis. Este modelo de desenvolvimento já foi usado ao longo de 30 anos (dos anos 50 aos anos 80) e que culminou em todos os problemas sociais conhecidos.
Mais do que discursos e boas intenções, o que precisamos nesse momento é de responsabilidade e coerência. Os avanços econômicos que a sociedade brasileira experimenta nos últimos anos não  são conseqüências de ideologias de esquerda ou direita. Essas conquistas são frutos de trabalhos técnicos, desenvolvidos a partir de estudos e experiências adquiridas ao longo dos anos. O Brasil não pode retroceder.