domingo, 2 de janeiro de 2011

Burrice à Esquerda

Foi o desejo de melhorar suas condições de vida que fez os homens saírem das cavernas. Essa necessidade é tão antiga quanto o próprio homem. Não fosse isso, talvez vivêssemos todos na pré-história.
Economia é a atividade que aborda a preocupação do homem com o seu conforto material. O termo economia origina-se das palavras gregas oikos (casa) e nomos (normas). Na Grécia antiga, Economia significava a arte de bem administrar o lar. Posteriormente, as normas relativas à administração do lar foram estendidas às polis (cidades-estados). Nascia à economia tal como conhecemos hoje, com menos complexidades, obviamente.
Modernamente, define-se Economia como a ciência que estuda o uso de recursos escassos para fins alternativos. Os recursos escassos são os bens (Alimentos, vestuário, máquinas, etc.) e serviços (Saúde, educação, entretenimento, etc.) empregados na produção, mediante o uso de uma tecnologia conhecida. Os usos são alternativos, porque os fatores e as matérias-prima podem ser utilizados para a produção dos mais variados bens ou serviços.
A atividade econômica é desenvolvida nos mercados, definido pelos economistas como um conjunto de compradores e vendedores que negociam a obtenção de um determinado produto (Bens ou serviços) oferecendo algo em troca, normalmente, as moedas (Há casos de trocas que não envolvem moedas, são as permutas ou transferências, por exemplo).
Exposto o meu esforço em tentar explicar o que é economia, passamos a discutir a notável colaboração do pensamento de esquerda, burramente posicionada como anti-mercado. À esquerda, auto-intitulada como progressista e preocupada com os interesses sociais, esforça-se em negar a importância social dos mercados, e a sua validade histórica.  Ora, não foram os mercados que muito contribuíram para o desenvolvimento da sociedade a níveis mais avançados de organização social da produção e distribuição de bens e serviços? Não foram esses avanços que trouxeram (e trazem) benefícios à vida das pessoas?  Qual contribuição prática o comunismo deu à sociedade? Pergunto-me dezenas de vezes na tentativa de entender a razão pelas quais infinitas almas bem intencionadas são seduzidas pelos ideais de esquerda.  
Talvez a resposta esteja com a Filosofia. Em sua obra “O nascimento da tragédia”, Nietzsche sugere que a concepção do pensamento ocidental ficou comprometida em função da interpretação equivocada de Sócrates sobre as tragédias gregas. Para Nietzsche, a tragédia grega é gerada pela duplicidade dos dois impulsos artísticos, o apolíneo e o dionisíaco. Apolo, o Deus da verdade, da beleza, da harmonia, do equilíbrio e da razão. Dionísio, o Deus das festas, do vinho, da alegria. Entretanto, a morte da tragédia grega seria resultado da contradição do dionisíaco e do socrático. É através das características socráticas que os êxtases dionisíacos dão lugar aos princípios estéticos, acabando por condenar os instintos. Com isso, a compreensão trágica da existência é aniquilada e que desta nova tendência socrática nasce uma nova forma de existência, a do homem teórico. A partir do declínio da tragédia, a cultura tem como atividade suprema a busca insaciável pelo saber. E para Sócrates, a única função do saber era o autoconhecimento; o crescimento intelectual, moral e espiritual.
Assim, fundamenta-se a base do pensamento ocidental.   Talvez dessa contradição, floresça o entendimento ao apego das idéias em detrimento ao pragmatismo da vida real. Talvez dessa deformação, nasça a compreensão que as idéias não podem estar dissociadas da realidade mundana. Ser progressista é, sobretudo, viabilizar soluções práticas aos problemas do cotidiano, sem que isso signifique negar as necessidades humanas, individuais ou coletivas.




Um comentário:

  1. Alessandro,
    O comunismo surge após o iluminismo. Ou seja, é uma doutrina que tentou encontrar meios práticos de impor à sociedade a idéia consolidada de direito à liberdade, igualdade e fraternidade. O comunismo não se opõe ao mercado no que se refere às trocas de bens e serviços. Se opõe ao controle dos meios de produção por uma classe que ao longo da história o monopolizou. Creio que há, ao menos, o benefício trazido pelo comunismo de impor a dialética. Pelo mundo inteiro houve resistências ao capitalismo sem controles, ao passo que a pratica socialista também foi refutada. Assim, a construção da síntese passa pela regulação dos mercados e outras idéias vigentes.
    O comunismo e as experiências socialistas estiveram amparadas na idéia de que as transformações nas estruturas sociais seriam capazes que transformar o homem. É algo que guarda alguma semelhança à idéia de Nietzsche de propor uma nova moral com seu "super-homem", embora não haja similaridade na moral proposta em ambos os casos. O que a prática revelou é que as contradições sociais são fruto das contradições humanas. Que justiça e injustiça estarão presentes em qualquer modelo econômico.
    O que existe é que se alimentou um abismo entre a idéia de bem estar coletivo e a busca individual de maior ganho. Para uns, o capitalista é um egoísta alienado e para outros o socialista um ingênuo ou hipócrita.
    Penso que o equilíbrio está na idéia de interdependência. É preciso internalizar a consciência de que um país rico não estará trânquilo cercado por vizinhos pobres. Também uma família não terá paz sendo um oásis de riqueza. A obviedade deste pensamento carece de proposição prática. Por isto venho pensando que há sim uma síntese entre o pensamento comunista e liberal capitalista a ser definida. Penso que ela passa pela fragmentação do que é direito básico a ser garantido a todos e o que é a esfera de interesse privado da qual o Estado deve ao máximo se afastar. É algo que vai além da simples regulação estatal e do assistencialismo. É um conceito que precisa de reflexão filosófica sobre direitos e deveres do cidadão e do Estado, para a partir disso extrair uma concepção de modelo econômico.

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