sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Momento de pagar a conta

O alto fluxo de capitais especulativos para os países emergentes, atraídos por maiores taxas de juros e, portanto, com maiores expectativas de ganhos, traz conseqüências malignas para suas economias.  Elevação das moedas locais em relação ao Dólar, aumento dos preços das ações e outros ativos, são alguns dos efeitos causados.
No Brasil, ainda não há sinais de bolhas no mercado de ações ou em qualquer outro, segundo os especialistas. No entanto, a valorização do cambio tem sido acentuada, contribuindo para a deterioração da balança comercial. Produtos externos tornaram-se mais baratos, favorecendo a importação, e produtos brasileiros perderam competitividade, implicando em menores exportações. Enquanto as exportações brasileiras desaceleraram em 28%, as importações cresceram 44%, comparando os mesmos períodos entre 2010 e 2009, reduzindo o saldo comercial em mais de 36%. Numa tentativa de frear o ingresso de capitais especulativos, o governo brasileiro aumentou a alíquota do IOF, o que provavelmente ajudará a conter a alta do cambio. Mas tal medida será insuficiente para mudar a tendência do comércio. A valorização do cambio explica parcialmente o descompasso entre as importações e exportações. Outro fator tem contribuído para esse descompasso, o crescimento da demanda interna alimentado pelo aumento da renda, da oferta de empregos e ampliação do crédito. Associado a esse cenário interno, há o aumento das taxas de juros chinesas o que empurra ainda mais incertezas para o futuro, na medida em que não se sabe o quanto isso afetará o crescimento chinês e o seu apetite por commodities, principal grupo de produtos exportados pelo Brasil. Contudo, os produtos importados têm ajudado a manter a inflação sobre controle, como declarou recentemente a FGV. As limitações da nossa capacidade produtiva têm sido compensadas pelo crescimento das importações, reduzindo, assim, as pressões inflacionárias. Há no atual cenário outro elemento relevante, o aumento do déficit público, em decorrência do crescimento desenfreado dos gastos do governo, o que contribui fortemente para a dependência em relação aos juros básicos em níveis elevados. Sobre os gastos do governo, é importante ressaltar que referem-se a gastos com o custeio da máquina administrativa, e não investimentos. Com isso, nossas esperanças em relação às melhorias da nossa infra-estrutura e redução do chamado Custo Brasil, o que melhoraria em muito nossa competitividade, se desfazem instantaneamente (O PAC ainda não passou de boa intenção e muita propaganda). Assim, o Brasil torna-se refém das importações, sob pena da volta da inflação, dos juros altos, é preciso financiar o déficit, e não criamos condições para sairmos desse quadro preocupante.
Por princípios não costumo subestimar a inteligência alheia. Desconfio que o governo petista aposte suas fichas nas receitas estimadas a partir do pré-sal (assunto para outra postagem). Entretanto, é evidente que esse cenário é altamente prejudicial para a saúde econômica brasileira. Cambio desfavorável por longo tempo implica na desindustrialização de setores produtivos e juros altos desestimulam investimentos e encarecem o crédito. Tudo isso, naturalmente, afetará a oferta de emprego e geração da renda. Portanto, inevitavelmente, o próximo governo terá que pagar essa conta do governo Lula, sob pena de vivermos um retrocesso econômico com conseqüências na vida das pessoas.

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